Eu sou azeda.
Sou seca. Sou ácida.
E muitas vezes, minha simpatia dependerá da sua.
Não confio em pessoas que são extremamente gentis o tempo todo. Não tem coisa melhor do que gentileza na hora certa. Mas, em dose exagerada, além de sufocar, soa falso.
Pensei nisso ontem, quando saía do restaurante.
Tem um rapaz que fica lá na porta vendendo perfumes. O cara do restaurante deixa ele ficar lá porque parece que ele teve derrame ou algo assim; sei que ele não movimenta direito um braço. Ele te deseja um bom almoço quando você entra, te deseja um bom trabalho quando você sai.
Meus vizinhos loucos, que brigam o tempo inteiro, que me acordam domingo à tarde, que não respeitam os demais moradores, que acham que a cachorra deles (uma labrador imeeeeensa) pode fazer 1 litro de xixi na porta dos outros e eles não precisam limpar, fazem a mesma coisa. É "bom domingo", "bom descanso", se bobear “bom caráleo” até.
S., a nova faxineira daqui, é desse jeito aí. Ela me pergunta se já almocei umas 8298429832 vezes, me oferece a comida dela outras 398498349378438 vezes. Sabe?
Parece forçado.
Isso me incomoda, me sufoca.
Talvez porque eu não seja melosa desse jeito, talvez por não entender que alguém possa ser assim de verdade. Ou talvez porque eu esteja certa e essa gentileza seja, apenas, falsidade.