segunda-feira, 2 de junho de 2008

A louca do buzão

Daí que, algumas vezes (eu disse "algumas vezes"), tomar ônibus pode ser divertido.
Niva me deixou no ponto final do buzão, que passa aqui pertinho de casa. O ponto estava até cheio, com meia dúzia de gatos pingados, o ônibus já estava pra sair.
essa meia dúzia de gatos pingados, tinha uma mulher que, assim que cheguei, veio falar comigo:
- Oi, desculpe, mas por acaso você tem um celular? É que preciso ligar pro meu marido, pois tomei ônibus errado e vim parar nesse fim de mundo. Fiquei duas horas dentro desse ônibus e, pior é que vim pro lugar errado. O motorista disse que ele passava na rua dos Trilhos e não passou.
- Bem, eu posso te emprestar, sim.
Aí, ela pediu para que eu ligasse a cobrar. Assim que terminei de digitar os números, a bateria acabou. Pensei: essa muié é zicada.
Daí, antes que ela entrasse em desespero, pois já estava em vias de, me ofereci para ligar pro marido dela, da minha casa, logo que eu chegasse, já que depois que eu descesse, ela ficaria ainda uns quarenta minutos lá dentro. Ok, ela topou.
O motorista veio, entramos no ônibus e eu sentei sozinha num banco. Ela veio e sentou do meu lado. Pensei: Ai!
Como ela não parava de falar, vi que teria que dar atenção:
- Esse motorista deve estar bêbado!!! Ou é louco! Perguntei pra ele, logo que entrei, se passava na rua dos Trilhos e ele disse que sim.
- Você pegou em que ponto?
- Na rua Lins de Vasconcelos...
- Ah, tá... é, mas ele não passa na ria dos Trilhos, ele vira na rua Taquari. Daí, você tinha que ter descido no primeiro ponto. Mas, como você não conhece o bairro, não tinha mesmo como não saber sem ele te avisar.
- Não, você não entendeu, eu MORO na rua dos Trilhos, sou do bairro!!! Mas, como ele dá muita volta, não estranhei ele entrar na Taquari e ir pro Tatuapé. Imaginei que ele fizesse a volta e entrasse na minha rua.
- Mas, então... como....
E não concluí a frase. Fiquei muda.
COMO ASSIM??????????????????????Ela mora no bairro, o ônibus não passa na rua dela (e ela nunca reparou nisso), entra em outra rua e vai embora, cruza o bairro, passa em frente o cemitério, passa pelo metrô Tatuapé, desce toda a Antônio de Barros, vai parar perto do Corinthians e ela não percebeu???????????????
O ônibus rodou o Tatuapé todo e ela achou o que? Que, num passe de mágica, ele entraria à direita em qualquer rua e, milagrosamente, seria a rua dos Trilhos, na Mooca? E bêbado tava o motorista. :o/
Mas, isso não é tudo.
Ela me perguntou quanto tempo demoraria pra chegar no destino e chutei:
- Uns trinta, quarenta minutos.
Ela endoidou. Virou pra trás e pediu pra usar o celular do mocinho, mas que ele podia ligar a cobrar. Ele, sem graça, deixou e discou. Daí:
- Oi Lu!!! Tomei ônibus errado. Estou há duas horas dentro desse ônibus, porque o motorista me deu uma informação errada. E agora, estou voltando com o mesmo ônibus. Vou demorar mais DUAS HORAS pra chegar em casa!!!
E eu:- QUARENTA MINUTOS!!! DUAS HORAS, NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!!! QUARENTA MINUTOS!!!
Olhei pro mocinho, incrédula. Balbucei:
- Ela é louca.
Gargalhamos.
E ela gritando pro marido que ia chegar só às 9 da noite. Doente.
Desligou e disse:
- Ah, já falei duas horas, de repente, dá tudo errado de novo.
O que pode dar errado se o ônibus passa no teu bairro que você tão bem conhece? Néam?
Daí, tocou o celular do mocinho. E ele, deu o celular pra ela:
- Pra você. É o Lu.
Mor-ri de rir. E ele me olhava, meio que rindo, meio que não acreditando.
Nesse momento, uma moça levanta e pede pro motorista avisá-la quando chegasse ao final de uma rua, que não entendi o nome. Virei pra trás e falei pro mocinho:
- Iiiiiiiiiiihhhhh, ó lá, outra que vai ficar duas horas dentro do buzão.
Gargalhadas. Até da louca.
Felizmente, o motorista avisou. E ela desceu no mesmo ponto do mocinho. A maleta continuou falando na minha orelha.
Aí, um moço, que estava no banco ao lado, perguntou, meio desesperado:
- Esse é o Vila Industrial?
- Não... esse vai pro Paraíso.
- Ah, meu Deus!!! Peguei ônibus errado.
Deu o sinal e quase caiu do ônibus, tamanho desespero do rapaz.
E a doida:
- Ah, é hoje, hein???
E ficou lamentando que eu ia descer, porque ela ficaria insegura, se eu pudesse ir com ela até a Mooca...E eu, sorriso amareeeeeeelo:
- É... pois é.... mas não posso. Faz o seguinte: quando ele virar na Tobias Barreto, pergunta se ele ainda passa na rua da Mooca. Se ainda passar, beleza. É pertinho.
- É mesmo, né? Ai, "brigada"... ó, meu nome é Emília. Não esqueça de mim, tá?
Olhei pra ela, desconfiada:
- Pode deixar...
E zarpei do ônibus.
Como esquecer?
Doida de pedra.
Tsc.

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