segunda-feira, 24 de março de 2008

Chocolate amargo

Moro no mesmo bairro desde que nasci.
Não sou pobre de marré, mas estou longe de ser rica. Só que não tenho culpa de terem escolhido o meu bairro pra ser o Morumbi da Zona Leste.
Eis que, na sexta-feira santa, fui comprar o resto das injeções (tive que tomar seis, pra coluna), passei no banco e decidi comprar uma Nhá Benta de Páscoa pra minha irmã, já que a coitada nunca comeu.
Entrei na Kopenhagen e perguntei se tinha a tradicional. Daí, a vendedora, que por sinal estava grávida, perguntou se eu queria caixinha com seis. Não, eu disse, quero uma só.
Ela pegou uma caixinha e colocou em cima do balcão. Achei a caixinha meio grande, pra uma Nhá Benta só. Sem me dizer o preço, ela me deu um cartão e pediu para que eu me dirigisse ao caixa.
Na dúvida, perguntei quanto era.
- Quatorze e oitenta, ela disse.
Caraca, pensei, quinze contos numa Nhá Benta???!!???
Foi quando olhei pra vitrine, aquela que mantém os doces fresquinhos e vi: Nhá Benta - R$ 6,80.
Como assim, Bial?
Aí, perguntei pra moça:
- Mas, non é seis e oitenta?
- Uma é seis e oitenta, mas aqui tem três.
- Mas, eu disse que queria uma só.
Ela bufou. Guardou a caixinha e foi pegar a unidade. Daí, resolvi levar mais uma, pra minha vizinha, que é muito legal e tals. E disse que troca qualquer ovo de Páscoa por uma Nhá Benta.
- Faz o seguinte: me dá duas.
- Mas, por quê você não leva três, então? Três vai sair por quatorze e oitenta e duas sai por treze e sessenta.
- Eu quero levar separado, não na caixa, porque vou dar para uma para cada pessoa.
- Tá. Mas, mas não tem sacolinha.
E eu:
- Tudo bem.
Ela fez um pacotinho muito do mal feito, colocou o durex de qualquer jeito e jogou de lado. A gerente viu, achou ruim e mandou outra menina refazer o pacote.
Paguei e saí da loja com um nó na garganta. Totalmente sem ação.
Eu, Carla, a criatura mais bocuda da face da Terra, fiquei sem ação, com vontade de chorar e hiper humilhada. Ela me tratou assim porque percebeu que eu non era as madames que invadiram o MEU bairro.
Cheguei em casa, dei a Nhá Benta pra vizinha e a outra pra minha irmã, aos prantos.
Daí que, minha irmã, my heroine, me fez ligar na Kopenhagen pra reclamar.
Liguei, pedi pra falar com a gerente e falei o que tinha acontecido e como estava me sentindo e chorei pacas. Eu perguntei se meu dinheiro valia menos do que o das madames e lamentei por uma mulher grávida ser tão amarga. Ela disse que viu o pacote, que mandou refazer, mas que não tinha notado como ela havia me tratado, antes disso. E que chamaria a atenção dela, pois não importa se eu comprar uma Nhá Benta ou um ovo de 10 quilos, o atendimento tem que ser o mesmo e blá blá blá.
Pediu mil perdões falou mais um monte de coisas.
Desliguei um pouco menos aborrecida, mas a sensação de "não ter cacife pra comer chocolate da Kopenhagen" ainda não passou.

Nenhum comentário: