Moro no mesmo bairro desde que nasci.
Não sou pobre de marré, mas estou longe de ser rica. Só que não tenho culpa de terem escolhido o meu bairro pra ser o Morumbi da Zona Leste.
Eis que, na sexta-feira santa, fui comprar o resto das injeções (tive que tomar seis, pra coluna), passei no banco e decidi comprar uma Nhá Benta de Páscoa pra minha irmã, já que a coitada nunca comeu.
Entrei na Kopenhagen e perguntei se tinha a tradicional. Daí, a vendedora, que por sinal estava grávida, perguntou se eu queria caixinha com seis. Não, eu disse, quero uma só.
Ela pegou uma caixinha e colocou em cima do balcão. Achei a caixinha meio grande, pra uma Nhá Benta só. Sem me dizer o preço, ela me deu um cartão e pediu para que eu me dirigisse ao caixa.
Na dúvida, perguntei quanto era.
- Quatorze e oitenta, ela disse.
Caraca, pensei, quinze contos numa Nhá Benta???!!???
Foi quando olhei pra vitrine, aquela que mantém os doces fresquinhos e vi: Nhá Benta - R$ 6,80.
Como assim, Bial?
Aí, perguntei pra moça:
- Mas, non é seis e oitenta?
- Uma é seis e oitenta, mas aqui tem três.
- Mas, eu disse que queria uma só.
Ela bufou. Guardou a caixinha e foi pegar a unidade. Daí, resolvi levar mais uma, pra minha vizinha, que é muito legal e tals. E disse que troca qualquer ovo de Páscoa por uma Nhá Benta.
- Faz o seguinte: me dá duas.
- Mas, por quê você não leva três, então? Três vai sair por quatorze e oitenta e duas sai por treze e sessenta.
- Eu quero levar separado, não na caixa, porque vou dar para uma para cada pessoa.
- Tá. Mas, mas não tem sacolinha.
E eu:
- Tudo bem.
Ela fez um pacotinho muito do mal feito, colocou o durex de qualquer jeito e jogou de lado. A gerente viu, achou ruim e mandou outra menina refazer o pacote.
Paguei e saí da loja com um nó na garganta. Totalmente sem ação.
Eu, Carla, a criatura mais bocuda da face da Terra, fiquei sem ação, com vontade de chorar e hiper humilhada. Ela me tratou assim porque percebeu que eu non era as madames que invadiram o MEU bairro.
Cheguei em casa, dei a Nhá Benta pra vizinha e a outra pra minha irmã, aos prantos.
Daí que, minha irmã, my heroine, me fez ligar na Kopenhagen pra reclamar.
Liguei, pedi pra falar com a gerente e falei o que tinha acontecido e como estava me sentindo e chorei pacas. Eu perguntei se meu dinheiro valia menos do que o das madames e lamentei por uma mulher grávida ser tão amarga. Ela disse que viu o pacote, que mandou refazer, mas que não tinha notado como ela havia me tratado, antes disso. E que chamaria a atenção dela, pois não importa se eu comprar uma Nhá Benta ou um ovo de 10 quilos, o atendimento tem que ser o mesmo e blá blá blá.
Pediu mil perdões falou mais um monte de coisas.
Desliguei um pouco menos aborrecida, mas a sensação de "não ter cacife pra comer chocolate da Kopenhagen" ainda não passou.
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