sábado, 10 de janeiro de 2009

Até um dia, pai maluco

Olhando ele ali, deitado, imóvel, só me vinha uma cena na cabeça: ele me levando na escola, quando eu estava na terceira e quarta-série. Subíamos a rua de terra, quase sempre, calados. Ficávamos um pouco afastados da muvuca; quando o portão abria, ele me dava um beijo e ia pro trabalho.
Levava na sua malinha xadrez, uma garrafa térmica com café com leite, a marmita e duas bananas. Na alma, o orgulho de ter a filha na escola e o desejo (que não se realizou) dela se tornar desenhista, assim poderia ajudá-lo nas suas esculturas de madeira.
O orgulho de ter perdido alguns dedos na serra e ter comprado a casa com o dinheiro da indenização.
O cheiro de serragem e cola.
Meu pai cheio de qualidades e de defeitos. Mas, meu.
Coração guerreiro até o fim, agüentou mais do que pensamos que conseguiria.
Deve estar dormindo ainda, mas agora nos braços da gordinha dele.

Sempre achei que meu coração tinha ido embora junto com a mãe.
Não tinha. Ainda tinha metade aqui que era seu.

Não te esquecerei.
Te amo pra sempre.

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