A rotina pode ser muito chata se você não tirar proveito dela.
Pensa só: você sai pra trabalhar, todos os dias e basicamente, vai pelo mesmo caminho, né? Eu vou, até porque é a melhor opção.
Mas, aí você passa pelos mesmos lugares e vê as mesmas pessoas. Ou melhor, algumas poucas pessoas te chamam a atenção e então, você começa a reparar nelas. Por exemplo, tem um cara que sempre passava por mim, eu subindo uma rua lá no Anhagabaú, pra pegar o buzão e ele descendo. Me chamou a atenção pelo porte, até que é bonitón, mas principalmente, pelas olheiras e pelas sobrancelhas grossas. Fazia tempo que não o via, mas essa semana, ele voltou.
Tem o poodlezin gordin e pretin do cara da borracharia, que fica numa das ruas onde o buzão passa. Ele é tão pretin que, quando tá dentro da borracharia, quase nem dá pra vê-lo. Hoje mesmo. Achei que ele era um monte de estopa suja. Mas, ele é fofo e o dia em que eu estiver adiantada, vou descer do ônibus pra tirar fotin dele. ^^
E tem o Mr. M.
Todos os dias, lá pelas 7:15 / 7:20 da manhã, ele está na porta de um boteco na Av. Rio Branco, trajando moleton, camiseta regata, tênis e óculos de sol. Detalhe: sempre com um copo de cerveja na mão. Apenas duas vezes, eu não o vi de camiseta regata: uma vez que estava MUITO frio e na outra vez, ele estava com roupa social. Mas, sempre tomando cerveja. Nunca sem o óculos.
Não sei se ele tem olhos claros, escuros ou se é vesgo, tipo um olho no gato, outro no rato. Bom, não me parece ser cego.
Ele sempre dá a impressão de estar meio hesitante, não sei explicar, parece que ele não sabe se fica na calçada ou na porta do bar.
Criei um monte de estórias na minha cabeça sobre esse coroa (ele deve ter uns 60 anos); uma delas é que ele é um judeu alcoólatra e falido, que trabalha à noite e sai do trabalho pela manhã, por isso está sempre tomando cerveja, pois é seu happy hour. Pode ser que seja um caminhoneiro, pois o modelo dos óculos que ele usa é de caminhoneiro. Outra é que ele é um mecânico e que a oficina é por ali, mas nunca vi mecânico judeu (ele tem cara de judeu) e o tênis dele está sempre limpinho; se mexesse com graxa, não estaria né?
Bem, o fato é que Mr. M. sumiu. Desapareceu. Escafedeu-se.
Já tem quase uma semana que non vejo o véio. Tou preocupada... fico pensando no que pode ter acontecido com ele.
Os filhos o internaram numa clínica de reabilitação? Problemas na mecânica? Será que foi demitido do trabalho noturno? O caminhão quebrou? Teve que levar uma carga pro Sul? Ganhou na loteria? Foi promovido e agora trabalha durante o dia? De repente, foi pra Israel.
Ah, sei lá.
Tá, tudo bem que eu nunca ia saber, de verdade, o nome dele, o que ele faz da vida, porque non coloca blusa de frio, porque non tira os óculos e porque toma cerveja tão cedo. Primeiro, porque eu non ia descer do ônibus pra falar com ele (só faço isso pelo cachorro) e segundo, porque não quero saber a verdade. Prefiro cultivar as estórias que criei.
Por sorte, eu o fotografei, um dia antes do sumiço. Não ficou lá essas coisas, porque o ônibus tava andando, mas já é um registro.
ÚLTIMA APARIÇÃO DE MR. M.
* atente para o tênis branquin. Non, ele non deve ser mecânico.
** repare nas pessoas de casaco e ele de regata.
*** repare que estava nublado; non dá pra ver direito, mas ele estava de óculos escuros.
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